UFPE e o futuro, agora
A magnitude e a velocidade do progresso técnico ocorrido nas últimas décadas, particularmente a partir da revolução da microeletrônica e da Internet, têm afetado intensamente o modo como nos relacionamos, como interferimos no planeta, e como produzimos conhecimento e tecnologias, acelerando o tempo de realização de valor e a vida útil dos produtos, de um lado, e a rápida obsolescência de um grande número de ocupações, de outro lado, substituídas por algoritmos e pela robotização, tema bastante discutido nos mais diversos fóruns internacionais nos últimos anos. Por consequência, tal aceleração tem levantado questões sobre o padrão de formação profissional compartimentado e estanque que ainda tem caracterizado o ensino superior no mundo, baseado na simples acumulação de conhecimento. Sendo o conhecimento também sujeito a rápida obsolescência, bases curriculares e métodos de ensino-aprendizagem adequados aos novos desafios vêm se tornando cada vez mais relevantes. A formação profissional não deve se resumir ao acúmulo de conhecimentos específicos e datados, nem a períodos específicos da vida dos indivíduos. Ao contrário, a Universidade contemporânea deve estimular os jovens a enxergar a realidade concreta em que estão inseridos, a partir de sólidos fundamentos científicos e visão humanística, e pesquisar soluções para os problemas observados.
Neste contexto, cabe à Universidade promover em seus estudantes o desenvolvimento de hábitos de aprendizagem contínua, competências e prontidão para se tornarem ágeis aprendizes, capazes de se reinventar tantas vezes quanto forem necessárias ao longo de sua vida profissional. Ao lado de criatividade, capacidade de iniciativa e autodeterminação, estas são habilidades cada vez mais relevantes para que as novas gerações consigam enfrentar os desafios trazidos pela intensificação do dinamismo tecnológico. Nesta perspectiva, metodologias de ensino-aprendizagem inovadoras devem ser buscadas, capazes de mobilizar diferentes campos do conhecimento, aproximando saberes distintos e complementares em projetos inter-multi-transdisciplinares e colaborativos para resolução de problemas reais, das tecnologias digitais, inteligência artificial, robótica e automação às ciências humanas e sociais, dos novos materiais à neurociência, nanotecnologia e biotecnologia. A UFPE está desafiada a enfrentar a construção desta nova Universidade, reinventar-se para poder contribuir mais decisiva e consistentemente para o desenvolvimento qualitativo e soberano de Pernambuco, do Nordeste e do Brasil nestes novos tempos que se anunciam.
Por meio do Projeto UFPE Futuro afirmamos que nós aceitamos o desafio. Estamos prontos para revolucionar a maneira como formaremos os cidadãos do futuro. Chegou a hora de criar cursos novos, estruturados de forma inter-multi-transdisciplinar, e de ocupar de forma estratégica diversos pontos do território, com campi inovadores, integrados aos territórios em que se situam. Com o Projeto UFPE Futuro, reafirmamos a necessidade de um modelo de universidade pública, gratuita e de excelência, articulado à produção mundial de conhecimento, mas inspirado pelo compromisso com seu contexto local.
Compreendemos que o desafio é de grande magnitude, mas é também fonte de estímulos para a UFPE reorientar suas estratégias. Para tanto, o Projeto destaca cinco diretrizes:
- excelência na formação e inclusão social – com habilidades interdisciplinares conectadas ao contexto de seu território e às demandas por inovação oriundas da Sociedade;
- qualidade e relevância na produção do conhecimento – em diferentes campos disciplinares, integrados a redes e fóruns globais de modo a promover o avanço da ciência;
- difusão e troca de conhecimento com impacto na sociedade e na economia - de modo a estimular a interação entre saberes científicos e populares;
- internacionalização como política de construção de conhecimentos para o exercício da solidariedade entre os povos e melhoria de vida das pessoas em níveis local e global;
- eficiência na governança institucional – planejamento, compras e licitações em interação com os serviços universitários e com forte apoio das tecnologias de informação e comunicação, bem como compromisso com a sociedade e transparência.
Para tornar essas diretrizes práticas concretas convidamos nossa comunidade acadêmica a integrar-se ao projeto e participar da articulação e repactuação de parcerias com órgãos públicos, com a iniciativa privada e com a sociedade civil organizada. Estamos aqui para dizer: mudar faz parte da nossa tradição. Para isso, construiremos uma nova configuração dos campi da UFPE – os existentes e aqueles a criar – em sintonia com as novas competências que requerem a Sociedade do Aprendizado e o mundo do trabalho, e em estreita integração com o Sistema Pernambucano de Inovação. Para a UFPE, o futuro é agora.
Anísio Brasileiro, reitor e Ana Cristina Fernandes, coordenadora de Parcerias Estratégicas da UFPE